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Quando a vida não é digna de Oscar

Esse texto é para você, assim como eu, que ainda erra nas mesmas coisas repetidas vezes. Acredito que a sensação que nos chega é de cansaço. De reagir sempre da mesma forma a várias situações, da sensação de que não está progredindo ou até mesmo de quem queria ser, mas não é. Bom, costumo dizer que o início dos 20 anos é marcado por uma forma heroica de olhar para si. Enxergamo-nos fortes, invencíveis e muito bons no que somos e fazemos, mas o tempo – senhor de si e de tudo – nos mostra que não somos isso tudo. Que não vamos conquistar tudo. Que nem todos os sonhos serão realizados. E que não poderemos vivenciar todas as experiências que gostaríamos. Essa é a mais natural e difícil de lidar, na minha humilde opinião. Isso porque, naturalmente, quando escolhemos um caminho, limitamos o leque de possibilidades a serem vividas. E nesse caminhar de possibilidades reduzidas, vamos reconhecendo toda nossa fragilidade, lidando com os fracassos e com as dificuldades daquilo que não controlamos.

Sabe... Descobri que é difícil ser leve! E lutar contra a rigidez mental é uma das coisas mais difíceis de lidar. Não é simplesmente pensar: “não vou mais pensar assim!” porque no minuto seguinte você estará repetindo a mesma coisa. E a sensação de sentir-se incapaz de mudar ou admitir que alguns comportamentos serão difíceis de transformar traz uma sensação de impaciência e fracasso. Por que você traçou, por vezes, um script de como seriam as coisas para sua vida e aceitar que algumas coisas não ocorrerão; que outras sim, mas não parecidas; que outras, idênticas mas sem os resultados que você esperava, não é uma tarefa prazerosa. Essas desconstruções são, para mim, um dos processos mais dolorosos da fase adulta. E que não adianta “bater cabeça” porque ninguém vence a realidade. Descobri que a realidade é implacável e nadar contra ela desgasta todas as suas energias. Enfim, em alguns momentos na vida vamos nos esforçar para sermos gratos, porque APARENTEMENTE (essa palavra me persegue na terapia) o que temos não será suficiente para o nosso ego que luta, com afinco, para realizar tudo aquilo que ele queria viver. E que, muitas vezes, não poderá.

Adaptar-se a quem verdadeiramente somos e ao que podemos é um desafio. Acolher esse processo de desequilíbrio requer paciência. Desequilíbrio de emoções, onde um dia se está grato e no outro dia lamentando por não estar ocupando outro lugar. A sensação quase asfixiante de lembrar que a maioria dos caminhos escolhidos foram escolhas nossas. É como se todos os outros caminhos não escolhidos fossem melhores do que os nossos, porque criamos projeções de perfeição nesses caminhos, que simplesmente não existem porque não foram escolhidos. Que as nossas conquistas são sempre pequenas, porque elas não são aquelas que foram desejadas e escritas no script da nossa biografia. A verdade é que prometemos muito e não estamos conseguindo entregar, porque criamos a ideia do que seríamos de modo semelhante àquelas questões de física que desprezam a resistência do ar. A resistência do ar, meus amigos, é grande, é pesada e dura. Ela se chama realidade. Depois de muito refletir, acredito que a chave disso tudo é começar a se ver como alguém normal e não numa posição de centro, tipo um coadjuvante, porque nem sempre conseguiremos ser protagonistas. De ser só mais alguém no mundo, sem a necessidade de agir sempre com maturidade ou corretamente, porque isso traz um sentimento de culpa/fracasso que adoece. Pode parecer um discurso meio melancólico e pessimista, mas essa quebra de encanto juvenil é necessária para entrarmos na vida adulta mais sóbrios. Com a certeza de que: não somos invencíveis, não somos os melhores, não somos super-heróis. E isso não impede de fazermos o nosso melhor a cada dia, mas sem a idealização de uma vida digna de Oscar. Apenas alguém que aprendeu ao errar nas mesmas coisas repetidas vezes e ainda assim ofertou o melhor que tinha em toda a sua vida.

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