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A volta nem sempre é por cima

Acredito que uma das coisas mais difíceis de lidar na fase adulta é a quebra de expectativas que a realidade traz pra gente. Os desejos que recebemos em todos os aniversários de “que você realize todos os seus sonhos” ou “você vai longe” ou ainda “você vai conquistar tudo o que quiser” simplesmente atrofiam diante da implacável realidade do que é ser humano. Inclusive isso me faz repensar cada vez que preciso desejar os parabéns para alguém ainda na infância ou adolescência para que eu não me sinta uma hipócrita. Afinal, você não realizará todos os seus sonhos. E o mais estranho é que mesmo que as coisas não sejam ruins, elas não tem o sabor agradável do “do jeito que eu queria”. O que sobra pra gente é recolher os pedaços dos sonhos que muito provavelmente não farão parte da nossa realidade e aceitar o que, dentro de inúmeras escolhas e circunstâncias, pudemos conseguir. Acho que no início da fase adulta a gente vive um luto. Sim, um luto para aceitar que as coisas não são como sonhamos que fossem. Alguns adultos, a depender da vida que tiveram, desenvolvem mais resiliência e passam de forma menos rude por essa fase. Mas os adultos que foram a “geração Disney” (essa foi a forma mais didática que consegui explicar) passam por esse luto de forma mais fria e violenta. Essa reflexão serve para tudo – bens materiais, situação financeira, relacionamentos, família, sucesso profissional. É exaustivo viver a realidade e o pior de tudo: alimentar a culpa de que deveria estar sendo grato (a) quando na verdade só precisamos sobreviver à frustração que é enxergar a vida por lentes mais maduras. E acho importante frisar isso porque escrevo bem no período do setembro amarelo onde a saúde mental ganha alguma visibilidade e todo mundo posta o quão é importante cuidar dela, mas em primeiro de outubro tudo volta ao normal. O fato é que a gente precisar chorar, e reclamar, e muitas vezes responder a todos os pensamentos de fracasso que chegam à nossa mente quando nem mesmo nós acreditamos nas respostas. Respondemos, mas não acreditamos no que respondemos porque na verdade só queríamos concordar com aquilo que nossa mente está dizendo. Mas e a terapia? Porque precisamos botar em prática as técnicas que, em tese, nos ajudam a ter uma saúde mental mais saudável. Nesse momento, estou considerando um adulto que tenha condições de pagar uma terapia porque, na maioria dos casos, não é o que acontece. A verdade mesmo é que se pararmos agora e olharmos para o estado atual das áreas da nossa vida veremos que estamos longe da linha dourada que sonhamos. Alguns terão um relacionamento saudável, mas não terão a casa que sonharam. Outros terão as posses financeiras e o trabalho dos sonhos, mas não terão saúde. Outros terão uma soma de tudo isso, mas mesmo assim não conseguirão se encontrar no mundo e viverão infelizes. Cada um viverá com sua bagagem de “mas eu queria que tivesse sido assim”. Uma opinião pessoal da autora (como se todo o texto não fosse): precisamos viver com a incompletude que a realidade nos traz. Viver com a falta. Não existe um manual que nos ajude a fazer isso. Acho que uma coisa que ajuda é saber que não somos os únicos. Cada um vive suas dores em silêncio. Ninguém posta as lágrimas de frustração que caem vez por outra quando a vida dá o seu veredito sem pena. Sem saber se a gente consegue seguir. Algumas desilusões não permitem dar a volta por cima. Às vezes, a gente faz a volta por baixo mesmo. Sozinho, em silêncio, quando ninguém está vendo. Porque, ao mesmo tempo em que estamos dando a volta por baixo, também precisamos dar conta da vida que acontece para o mundo ver. E assim, vamos seguindo e vivendo essa vida dupla, uma externa, rotineira e automática, e uma que acontece na nossa mente, que tem seu próprio tempo, sua própria forma e que cada um vive de acordo com seu repertório emocional. Aceitar esse tempo com gentileza para com nós mesmos é o início de uma jornada para se libertar no ideal e viver, de fato e sem se autopunir, o real. No mais, essa autora segue o padrão da vida adulta: vem, joga a bomba e vai embora. Não consigo apresentar soluções para que você conclua essa jornada de forma exitosa. Vocês que precisarão dar conta desse fim de domingo melancólico. E eu também.

Abraços!

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